Coleção: # stairs berlin

"O interior do edifício que de outra forma não se pode ver."

Série por: Gui Valverde

As escadas, lugares privados e escondidos – a veia que bombeia o sangue – de um prédio no coração de Berlim.

Quem não quer ver essas incríveis escadas – retratando a cidade e o tempo – um olhar que revela o interior do edifício que de outra forma não se pode ver. Fotos na frente do prédio que compartilham histórias com os passantes.

“Desde que cheguei já estava ali. / Eu e meus olhos imaginados. / Eu e as histórias silenciadas ante / O mirante invertido de cada vida passante. / Infindos pés e sapatos que já me / Eram pessoas antes mesmo de subir. / Desde que cheguei em Berlim estive ali. / Em cada canto. Cada madeira. / Cada desenho de degrau. Distinto. / Naquela escada. Onde mil e tantas casas / se encontravam. Quantas. / Todas num só miúdo. / Aquele emadeirado. Foi lá que estive. / Desde que cheguei. Fincando. / Sem mover sola. Até que quis partir. / Passei a visitar pessoas. Outras moradas. / Novas escadas. As mesmas. / Um infinito de passos para encontrar. / E eu. Investigado. / Degrau a degrau. Cheio de mim / por cada mínimo alheio. / No tempo de Stairs Berlin. / Onde contínuo. Escafandrista. Das profundezas. / Essas relíquias de escada. Pronto. / Assumi profissão. E não é que bateu / a querência de espalhar formatos. / Botar o mundo para dentro. / Ou expulsá-las logo de vez. / Ainda saio feito louco pregando fotos / De escadas nas fachadas. Ainda levo cada / uma para fora. Dos prédios. Das casas. / Da cabeça. Uma a uma. E então um bocado / de olhos imaginários passarão. Cada qual / com o tá-tá-tá de seus pisados. Seus. / E eu tentar vertê-los. Em mim. Ah ainda / canto e toco na primogênita. Maravilhado. / Ao ritmo de teus pisados. Sem-fim. E boto meu / Pai pra tocar e cantar nela. Ah ainda levo / é gente comigo para meu Stairs Berlin.”

Gui Valverde, 2017, Berlim